A Educação e o Brincar
O trabalho com crianças na faixa etária de 1 a 6 anos
Para nós educadores, que passamos horas diárias, semana após semana, meses e anos seguidos com crianças muitas questões e situações exigem uma maior reflexão. Programar atividades de desenho, colagem, recorte, etc, são necessários, mas não se completam em si mesmas, sem um entendimento maior sobre a criança.
Ao nascer, a criança encontra um mundo pronto, do jeito que é, sem mais nem menos, e desde muito pequena ela vai experimentando a indagar sobre a origem das coisas e de si mesma. E todos ficam na expectativa de ver essa criança crescer forte, saudável e aprender sobre tudo o que existe.
Como educadores, nossas questões surgem exatamente aqui: como a criança aprende e conhece esse mundo?
Se nós voltarmos para observar um grupo de crianças, de qualquer idade, poderemos constatar muitas coisas. Eles correm, pulam, amassam papéis, empurram objetos, constroem casinhas, misturam coisas para fazer “remédios” ou “poções mágicas”, brincam de papai e mamãe, de médico, viajam de trem ou avião, vão para a praia nadar, entram na floresta do lobo, voam como super-homem ou a mulher maravilha, etc, e tudo isso sem sair de onde estiverem brincando. Inicialmente podemos dizer: “ah! Estão brincando!” Sem dúvida é isto que estão fazendo. Mas é importante perceber que a atividade espontânea da criança é fundamental na apropriação de todo o conhecimento. É através dela que vai conhecendo as propriedades físicas dos objetos, estabelecendo relações entre o novo e aquilo que já conhece, compreendendo mais e mais o mundo que está a sua volta.
Ao conjunto de todas estas atividades as quais a criança se entrega pelo prazer da própria atividade, chamamos de jogo. É o jogo que possibilita à criança desta faixa etária, não só construir um conhecimento sobre a realidade física que a cerca, como também e um meio da criança se exercitar e entender papéis e emoções que vivencia no cotidiano.
Numa simples brincadeira de casinha, ela está vivendo sentimentos de amor, agressão, alegria, medo, etc, e é através desta vivência que ela vai buscando soluções para questões que, como dissemos anteriormente, ela se faz desde pequena: “Quem sou eu? O que é o mundo? Como posso viver dentro desta realidade?”
E assim a criança vai construindo sua própria imagem, seus valores e seus objetivos. É claro que a criança não se questiona de maneira com dissemos acima. E nem poderia, pois seu pensamento difere qualitativamente do pensamento do adulto. A criança é incapaz de refletir sobre suas dúvidas. Ela vai levantando questões a partir das ações que realiza, da exploração do mundo. É dessa interação que emergem novos elementos, novos dados que entram em choque com aquilo anteriormente assimilado, possibilitando um maior crescimento.
“No brincar, objetivos, meios e resultados tornam-se indissociáveis e enredam a criança em uma atividade gostosa por si mesma, pelo que proporciona no momento da realização. Este é o caráter autotélico do brincar. Do ponto de vista do desenvolvimento, essa característica é fundamental, pois possibilita a criança aprender consigo mesma e com os objetos ou pessoas envolvidas nas brincadeiras, nos limites de suas possibilidades e de seu repertório. Esses elementos, ao serem mobilizados nas brincadeiras, organizam-se de muitos modos, criam conflitos e projeções, concebem diálogos, praticam argumentações, resolvem ou possibilitam o enfretamento de problemas.”
– Lino de Macedo, psicólogo brasileiro
Segundo Piaget, a criança até por volta dos 6 anos se caracteriza por um pensamento essencialmente egocêntrico, subjetivo, prático, intuitivo e irreversível. Ainda não é capaz de diferenciar o seu ponto de vista dos demais, de descentrar-se para compreender o outro e tudo o que cerca. Para ela, tudo gira ao seu redor e tem uma explicação em função da sua própria pessoa.
Para nós, o educador tem um papel muito importante neste contexto. Ele precisa, antes de tudo, saber quem é esta criança com quem está em contato – de que forma ela pensa, age, constrói o conhecimento do mundo – para, a partir daí, contribuir com o crescimento e o desenvolvimento geral da criança. Deve estar atento para as questões que trazem, não só verbalmente, mas, sobretudo através das ações diárias e dos jogos espontâneos.
O principal é um relacionamento de respeito mútuo entre o adulto e a criança. Isto não significa que o adulto deva deixar que a criança faça tudo o que quiser, ainda mais quando se trata de um grupo de crianças. É necessário que ele exerça sua autoridade no sentido de fornecer um meio físico e psicológico estável, procurando garantir o espaço e segurança individual e do grupo como um todo. Com isto, estará criando condições para a troca, a interação entre as crianças e, possibilitando assim, que elas se questionem e se coloquem.
Como já colocamos anteriormente, acreditamos que a criança é o sujeito de todo o processo de construção do conhecimento, e que isto depende basicamente da sua ação voluntária. Nesse sentido, é importante que o educador não se antecipe às descobertas das crianças, trazendo-lhes material ou respostas prontas, onde não possam agir por conta própria. Ele deve estar sempre pronto para trabalhar com ideias e interesses das crianças, o seu planejamento deve servir de parâmetro, para ter em mente os objetivos a que se propõe, onde a avaliação é constante.